Que tipo de
uva se adequa melhor a determinado tipo de vinha, que não só conduza à produção
de um vinho com as características desejadas pelo produtor, como também reduza
a necessidade de utilização de aditivos de forma a tornar o seu consumo mais
saudável e a sua produção mais barata? Foi para dar resposta a esta pergunta
que, pela primeira vez em Portugal, um grupo de investigadores da Universidade
de Aveiro (UA) estudou durante vários anos a relação entre o tipo de castas, as
características do solo onde estas são cultivadas e os fatores ambientais que o
envolvem.
O trabalho efetuado desde há três anos pelo Departamento de Química da
academia de Aveiro, junto de um produtor da Região Demarcada da Bairrada,
acrescenta às práticas da viticultura sustentável em Portugal uma ferramenta
inédita que, perante o conhecimento da relação entre as castas e as
características dos terrenos, permite aos produtores gastarem menos dinheiro,
reduzirem drasticamente o impacto da produção no meio ambiente e produzirem
vinho de melhor qualidade.
“A redução dos custos e a melhoria da qualidade
do produto é fundamental para os produtores”, lembra Sílvia Rocha, investigadora do dq
da academia de Aveiro. Nesse sentido, a coordenadora do projeto garante que “é
importante perceber qual é o potencial enológico de cada casta, ou seja, quais as características físico-químicas de cada uma delas nos diferentes ambientes, já
que estas, ainda que sejam do mesmo tipo, podem variar consoante as
características do terreno em que são produzidas”. Assim, acrescenta a investigadora, e
conforme o vinho que quer produzir, “o produtor pode decidir qual o melhor binómio
casta/ambiente que lhe interessa”.
O resultado é que, dentro das garrafas,
sai para o mercado um vinho que não só foi “produzido com menos custos no processo tecnológico”,
como também foi obtido “sem excesso de coadjuvantes enológicos”. Ganha o bolso do produtor,
ganha a saúde do consumidor porque tem em mãos um produto menos processado quimicamente e
ganha o ambiente, precisamente pela diminuição da necessidade do uso de produtos químicos
quer na vinha, quer no lagar.
Uma ferramenta para os produtores
nacionais
O trabalho de campo da equipa de
investigação de Sílvia Rocha tem sido efetuado na Região Demarcada da Bairrada, junto do produtor
de vinhos Campolargo. “Como o produtor tem muitas vinhas, conseguimos estudar a mesma
casta em vários tipos de solo, desde o calcário, ao arenoso, passando pelo
argilo-calcário”, explica a responsável lembrando que “cada solo, em si mesmo, engloba
um conjunto de outras características ligadas à exposição solar, à altitude, à
drenagem da água, à orientação dos ventos e a muitos outros aspetos importantes
para o desenvolvimento da videira e das uvas”, igualmente tidos em conta pelos
cientistas da UA.
O estudo do dq, que englobou o estudo de
sete castas, entre brancas e tintas, em múltiplos tipos de solos, ainda que
circunscrito para já àquela região bairradina, pode ser extrapolado para
qualquer zona de produção vinícola nacional. “Esta é uma ferramenta fundamental
para os produtores de qualquer zona do país”, sublinha Sílvia Rocha ainda que,
reconheça, “o estudo tem que atender às especificidades características da cada
região”.
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