quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Uvas e solos: Universidade de Aveiro relaciona e otimiza ingredientes para um bom vinho


Que tipo de uva se adequa melhor a determinado tipo de vinha, que não só conduza à produção de um vinho com as características desejadas pelo produtor, como também reduza a necessidade de utilização de aditivos de forma a tornar o seu consumo mais saudável e a sua produção mais barata? Foi para dar resposta a esta pergunta que, pela primeira vez em Portugal, um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) estudou durante vários anos a relação entre o tipo de castas, as características do solo onde estas são cultivadas e os fatores ambientais que o envolvem.

O trabalho efetuado desde há três anos pelo Departamento de Química da academia de Aveiro, junto de um produtor da Região Demarcada da Bairrada, acrescenta às práticas da viticultura sustentável em Portugal uma ferramenta inédita que, perante o conhecimento da relação entre as castas e as características dos terrenos, permite aos produtores gastarem menos dinheiro, reduzirem drasticamente o impacto da produção no meio ambiente e produzirem vinho de melhor qualidade.


“A redução dos custos e a melhoria da qualidade do produto é fundamental para os produtores”, lembra Sílvia Rocha, investigadora do dq da academia de Aveiro. Nesse sentido, a coordenadora do projeto garante que “é importante perceber qual é o potencial enológico de cada casta, ou seja, quais as  características físico-químicas de cada uma delas nos diferentes ambientes, já que estas, ainda que sejam do mesmo tipo, podem variar consoante as características do terreno em que são produzidas”. Assim, acrescenta a investigadora, e conforme o vinho que quer produzir, “o produtor pode decidir qual o melhor binómio casta/ambiente que lhe interessa”.

O resultado é que, dentro das garrafas, sai para o mercado um vinho que não só foi “produzido com menos custos no processo tecnológico”, como também foi obtido “sem excesso de coadjuvantes enológicos”. Ganha o bolso do produtor, ganha a saúde do consumidor porque tem em mãos um produto menos processado quimicamente e ganha o ambiente, precisamente pela diminuição da necessidade do uso de produtos químicos quer na vinha, quer no lagar.

Uma ferramenta para os produtores nacionais

O trabalho de campo da equipa de investigação de Sílvia Rocha tem sido efetuado na Região Demarcada da Bairrada, junto do produtor de vinhos Campolargo. “Como o produtor tem muitas vinhas, conseguimos estudar a mesma casta em vários tipos de solo, desde o calcário, ao arenoso, passando pelo argilo-calcário”, explica a responsável lembrando que “cada solo, em si mesmo, engloba um conjunto de outras características ligadas à exposição solar, à altitude, à drenagem da água, à orientação dos ventos e a muitos outros aspetos importantes para o desenvolvimento da videira e das uvas”, igualmente tidos em conta pelos cientistas da UA.

O estudo do dq, que englobou o estudo de sete castas, entre brancas e tintas, em múltiplos tipos de solos, ainda que circunscrito para já àquela região bairradina, pode ser extrapolado para qualquer zona de produção vinícola nacional. “Esta é uma ferramenta fundamental para os produtores de qualquer zona do país”, sublinha Sílvia Rocha ainda que, reconheça, “o estudo tem que atender às especificidades características da cada região”.



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